quarta-feira, 10 de julho de 2019

Leishmaniose canina: o que é, sintomas e tratamento


Pense em uma doença infecciosa, transmitida por um inseto, capaz de atacar tanto pessoas como animais e que se espalha pelas cidades brasileiras. Essa é a leishmaniose, mal causado por um parasita e disseminado unicamente por meio da picada do mosquito-palha, vetor que vivia restrito a regiões rurais e silvestres do Norte, Nordeste e Centro-Oeste mas que, com a destruição ambiental acelerada, está se adaptando ao meio urbano e se propagando pelo país.

O cão doméstico é um dos alvos da doença. Vale ressaltar, porém, que, assim como o homem, ele é apenas um hospedeiro do parasita. Logo, lambeduras, arranhões, mordidas e fezes não transmitem o problema. Apesar desse fato, a eliminação sistemática de animais infectados ainda é praticada em algumas áreas do país, sob alegação de se cumprir um decreto de mais de 50 anos.
Além de desumana, a política de extermínio se mostra ineficaz, como atesta o quadro de expansão da leishmaniose. Já há um consenso entre a comunidade científica de que a doença só será controlada integrando medidas como combate ao mosquito, diagnóstico precoce, acesso ao tratamento completo e vigilância sanitária efetiva.

O que é Leishmaniose ?  


A Leishmaniose canina é uma infecção parasitária causada por protozoários que atacam o sistema imunológico do animal. Quando em contato com seu hospedeiro (nesse caso, o cachorro), o parasita do tipo Leishmania começa a atacar as células fagocitárias (os macrófagos – responsáveis por proteger o organismo de corpos estranhos). Ele se liga a essas células e começa a se multiplicar, atacando mais células. Nessa propagação, podem atingir órgãos como fígado, baço e medula óssea.

Há dois tipos de leishmaniose: a cutânea e a visceral.

A leishmaniose cutânea Ela pode ser causada por três espécies diferentes do microorganismo: Leishmania amazonensis e Leishmania guyanensis na região amazônica, e Leishmania braziliensis, distribuído por todas as regiões do País. Este último parasita causa a leishmaniose monocutânea, que se manifesta de forma muito parecida com a tegumentar. “A diferença é que, ao mesmo tempo ou meses depois, surgem lesões nas mucosas da nasofaringe que destroem a cartilagem do nariz e do palato, provocando deformações graves”, aponta Damous.

Caracteriza-se por feridas na pele que se localizam com maior frequência nas partes descobertas do corpo. Tardiamente, podem surgir feridas nas mucosas do nariz, da boca e da garganta. Essa forma de leishmaniose é conhecida como "ferida brava". O primeiro sinal da forma cutânea costuma ser uma única ou várias lesões na pele, quase sempre indolores. Inicialmente são feridas pequenas, com fundo granuloso e purulento e bordas avermelhadas, que vão aumentando de tamanho e demoram para cicatrizar.

A leishmaniose visceral canina é uma doença que pode ser transmitida de animais para humanos e vice-versa, sendo o mosquito o vetor. Ou seja, é uma zoonose. Aliás, uma grave zoonose que pode levar ao óbito tanto o humano quanto o cachorro infectado. Por isso, essa enfermidade é uma questão de saúde pública que exige cuidado de todos no combate e prevenção. É originada pelos parasitas leishmania donovani, infantum e chagasi, mas é importante saber que em 99,9% das vezes em que o tema é leishmaniose em cães, é da leishmaniose visceral canina que se trata. Isso porque a cutânea não tem o cachorro como seu principal alvo, e a visceral, sim.

É uma doença sistêmica, pois, acomete vários órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. Esse tipo de leishmaniose acomete essencialmente crianças de até dez anos, após esta idade se torna menos frequente.

Transmissão

 

A leishmaniose é transmitida por insetos hematófagos (que se alimentam de sangue) conhecidos como flebótomos ou flebotomíneos. Os flebótomos medem de 2 a 3 milímetros de comprimento e devido ao seu pequeno tamanho são capazes de atravessar as malhas dos mosquiteiros e telas. Apresentam cor amarelada ou acinzentada e suas asas permanecem abertas quando estão em repouso. Seus nomes variam de acordo com a localidade, os mais comuns são:
  • Mosquito palha
  • Tatuquira
  • Birigüi
  • Cangalinha
  • Asa branca
  • Asa dura
  • Palhinha.
O mosquito palha ou asa branca é mais encontrado em lugares úmidos, escuros, onde existem muitas plantas.

As fontes de infecção das leishmanioses são, principalmente, os animais silvestres e os insetos flebotomíneos que abrigam o parasita em seu tubo digestivo, porém, o hospedeiro também pode ser o cão doméstico.

Na leishmaniose cutânea os animais silvestres que atuam como reservatórios são os roedores silvestres, tamanduás e preguiças. Na leishmaniose visceral a principal fonte de infecção é a raposa do campo.

Os flebótomos são insectos de pequeno tamanho, com pilosidades e duas asas (2,5 a 3 mm de largura) que, ao contrário dos mosquitos, não emitem um zunido quando voam.

A cor varia entre o amarelo claro e o castanho-escuro. Os flebótomos mantêm-se activos desde o início do calor, normalmente em Abril e estendem-se até Setembro. Em anos mais quentes pode iniciar-se em Março e terminar em Novembro.

É neste período que pode ocorrer a transmissão da Leishmaniose. O período de actividade dos flebótomos começa ao entardecer e continuar até amanhacer. Os flebótomos da área do mediterrâneo preferem noites amenas (não menos do que 16ºC) e não podem voar com ventos muito fortes.

Sintomas da leishmaniose cutânea

 


Os sintomas da Leishmaniose Tegumentar (LT) são lesões na pele e/ou mucosas. As lesões de pele podem ser única, múltiplas, disseminada ou difusa. Elas apresentam aspecto de úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolor.

As lesões mucosas são mais frequentes no nariz, boca e garganta. Quando atingem o nariz, podem ocorrer:
  • entupimentos;
  • sangramentos;
  • coriza;
  • aparecimento de crostas;
  • feridas.
Na garganta, os sintomas são:
  • dor ao engolir;
  • rouquidão;
  • tosse.

 Sintomas da leishmaniose visceral

 

Os sintomas da leishmaniose visceral canina são diversos. Entre os sinais externos, são bem características as lesões, descamação e coloração branca prateada na pele. Nas patas, pode ocorrer infecção (pododermatite), pele grosseira por excesso de produção da queratina (hiperqueratose dos coxins) e unhas espessas e em formato de garras (onicogrifose).

Machucados que não saram nunca e feridas na orelha também são comuns e servem de alerta para a doença. Outra particularidade da leishmaniose canina é que 80% dos cachorros infectados apresentam problemas oculares. Fique atento à secreção persistente, piscadas excessivas e incômodo nos olhos.

O cachorro ainda pode apresentar nódulos e caroços, que são características típicas dessa enfermidade. Geralmente, eles aparecem porque o sistema de defesa do organismo age contra o ataque da leishmania. Isso acaba aumentando o volume dos gânglios linfáticos – em várias partes do corpo do animal ao mesmo tempo ou de forma localizada.

 Os principais sinais da leishmaniose visceral são:
  • Febre irregular, prolongada
  • Anemia
  • Indisposição
  • Palidez da pele e ou das mucosas
  • Falta de apetite
  • Perda de peso
  • Inchaço do abdômen devido ao aumento do fígado e do baço.

  

 Sintomas variáveis da leishmaniose em cães

 

A leishmaniose canina também possui sintomas variáveis. O parasita pode prejudicar diversos órgãos internos como rins, fígado, ou mesmo estruturas como o sistema digestivo. Cada lugar agredido trará uma consequência correspondente. Entre as mais comuns estão vômito, diarreia, sangramento nas fezes, perda de apetite, desidratação e irregularidade no trato urinário. Quando a medula óssea é atacada, por exemplo, a produção de células sanguíneas diminui. Isso pode gerar anemia e deixá-lo predisposto a novas infecções.

Por conta da incidência no sistema imunológico, o cachorro infectado frequentemente apresenta indícios de outras doenças. Ou, de fato, contrai uma outra enfermidade, uma vez que o organismo foi enfraquecido pela Leishmania. Isso implica na dificuldade em diagnosticá-la instantaneamente. Muitas vezes, o cachorro é diagnosticado inicialmente com um problema, é tratado e não se cura completamente. Somente a partir daí que surge alguma suspeita ou investigação sobre a leishmaniose canina.

Apesar da leishmaniose visceral canina apresentar tantos sintomas, há cachorros que não demonstram qualquer sinal de algo errado. É importante saber que a maioria das contaminações é assintomática.


 Diagnóstico de Leishmaniose 

 

Além da observação clínica do veterinário durante a consulta, existem formas laboratoriais de diagnóstico de leishmaniose canina. A primeira e mais confiável é a de observação do parasita. Ela é feita por histopatologia. Um pequeno fragmento do corpo é retirado, como por exemplo um pedaço de pele, e enviado ao laboratório. Lá, as células serão analisadas através de um microscópio.

É possível fazer também por citologia aspirativa. Com uma agulha, o veterinário aspira as células de determinado órgão para avaliação. Em ambas as formas, o diagnóstico de leishmaniose em cães é conclusivo assim que o parasita é visualizado. Por essa razão, são técnicas muito seguras para constatar a doença.

Entretanto, embora sejam as melhores formas, elas têm uma desvantagem. Pode ser que a amostra retirada não contenha o protozoário da leishmaniose. Isso acontece principalmente quando a infecção é branda ou está no início, pois a quantidade de leishmania ainda é pequena. É daí que surgem os falsos negativos ou não se confirma a presença do parasita.

Coleta de sangue e testes sorológicos

 

O outro método para diagnosticar leishmaniose canina é pela coleta de sangue e testes sorológicos. Quando um problema surge no organismo, o sistema de defesa entra em ação para lutar contra esse agente. Essa resposta aparece como anticorpos que se formam para combater o parasita. Logo, a detecção da leishmaniose em cães é realizada a partir desses anticorpos específicos. Quando seus níveis são altos, temos a comprovação. Mas, se forem baixos, não há uma conclusão e outros exames são necessários.

Ainda nessa linha de análise sanguínea, há alguns testes rápidos, como se fossem testes de gravidez. Uma gotinha de sangue é misturada a uma solução para checar se há ou não reação com o anticorpo. O resultado é obtido em poucos minutos e utilizado como uma forma de triagem.

Além desses, outra forma de diagnóstico é a detecção do DNA da Leishmania no sangue ou em um fragmento de órgão. No entanto, nessa metodologia também tem chances de dar falsos negativos ou resultados inconclusivos, uma vez que o material colhido pode não conter o parasita.

O diagnóstico da leishmaniose canina é complexo e infelizmente nenhum exame é totalmente confiável – todos têm margens de erro. Infelizmente, essa porcentagem de falhas dificulta o processo. O veterinário vai avaliar o quadro clínico e todo o contexto do cachorro para escolher a técnica mais conveniente.

Tratamento e Prevenção 

 

Por se tratar de uma questão de saúde pública, o diagnóstico da leishmaniose canina era praticamente uma sentença de morte até pouco tempo atrás. O Ministério da Saúde não permitia que o tratamento fosse realizado, pois a doença não tem cura – até hoje. Como se não bastasse, além de ser uma grave zoonose, abre a possibilidade de contagiar outros animais e humanos.

Embora o parasita necessite do vetor para a sua transmissão (o mosquito), o cachorro é o principal hospedeiro urbano da doença. É também a forma de manter o parasita vivo. Com o cão de hospedeiro, a picada do mosquito permite se espalhar até novos “abrigos”. Diante desse cenário, muitos cachorros foram sacrificados na tentativa de combate à doença.

Medicamento para leishmaniose em cães

 

Essa realidade começou a mudar em 2016, quando surgiu um novo medicamento regulamentado pelo Ministério da Saúde e com resultados bastante positivos. Mas é preciso lembrar que a leishmaniose canina permanece sem cura total. O que esse tratamento faz é promover uma cura clínica e epidemiológica.

Isso significa que o cachorro não apresentará lesões ou sinais de estar doente. Ele vive como se fosse um animal saudável. O medicamento diminui a carga da Leishmania de forma a conter os prejuízos da doença. Esse animal também deixa de ser fonte de transmissão.

Ainda é uma cura parcial, pois o parasita continua vivendo no cachorro, mas já demonstra um grande avanço. Porém, é um tratamento caro, longo e que requer muito cuidado e intenso acompanhamento veterinário. Possivelmente, o cachorro infectado terá de repetir o tratamento, realizar exames e avaliações clínicas para acompanhamento ao longo da vida.

Como complemento dessa medicação, é possível promover medidas paliativas para amenizar os sintomas. Esse suporte pode ser indicado para tratar um problema causado pela doença. Por exemplo, um fígado afetado pode receber medicação específica.

Como prevenir a leishmaniose canina

 

A Leishmaniose em cães é uma doença endêmica que, nos casos mais graves, pode ser fatal. Veja a seguir as melhores formas de prevenir e cuidar do seu pet para protegê-lo da doença:

– Limpeza: uma das principais formas de prevenção é evitar a proliferação do mosquito. Como ele gosta de ambientes ricos em matéria orgânica, é importante manter o ambiente onde o seu cachorro vive higienizado.

– Tela de proteção: instalar telas de proteção em casa ajuda a proteger o seu pet, impedindo que o mosquito entre e contamine o cachorro.

 Coleira repelente ou repelente: coleira repelente ou borrifar a solução repelente no cachorro afasta o mosquito do seu cão.

– Vacina: outra forma de prevenção da leishmaniose canina é a vacinação. A vacina pode ser tomada por filhotes acima dos 4 meses de idade. É administrada em três doses, com intervalo de 21 dias entre elas, e deve ser repetida todos os anos. Entretanto, é preciso ressaltar que somente os cachorros avaliados como soro negativo (que comprovadamente não apresentam o parasita) podem tomá-la. E embora seja importantíssima para a prevenção e tenha bons resultados, a vacina infelizmente não protege 100%.

E se o seu cachorro foi infectado com a leishmaniose canina, é importante mantê-lo longe do mosquito. Isso evita que ele seja picado e a doença contagie outro animal ou humano.

Fonte:
- Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. O que são leishmanioses? (Folder)
- Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz.

- FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Centro Nacional de Epidemiologia. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. Vol. 2, Brasília, 1999. 200 p.
- https://www.infoescola.com/doencas/leishmaniose/

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