Intoxicação por paracetamol em gatos
O paracetamol é um fármaco com propriedades analgésicas e
anti-piréticas comummente utilizado em pessoas. É relativamente barato e
de compra fácil numa farmácia, daí o seu uso recorrente.
Existem várias apresentações deste medicamento, entre as quais as mais conhecidas : Ben-U-Ron, Panasorbe, Panadol ou Tylenol.
Cada comprimido tem em média 500 mg. Sendo que a dose letal para um
gato é de 50 a 60 mg por Kg, basta meio comprimido para matar um gato
adulto de 4Kg e apenas um quarto para um gatinho.
O paracetamol é metabolizado no fígado, sob a ajuda de várias
enzimas. No sistema metabólico do gato, há uma deficiência numa destas
enzimas, que leva à formação de metabolitos tóxicos.
Consequentemente,
estes metabolitos vão conduzir à destruição das células vermelhas
sanguíneas, essenciais para a vida. O fígado é também afetado pela
produção destes metabolitos.
Uma das funções essenciais das células vermelhas é o transporte de
oxigénio aos orgaõs. Quando o animal não é socorrido prontamente, a
privação de oxigénio prolongada pode conduzir à falência orgânica, sendo
os órgãos mais afetados o fígado e o rim.
Estudos em genética molecular, utilizando as técnicas de clonagem e
sequenciamento gênico em gatos domésticos, foram capazes de demonstrar
que os gatos fixaram uma mutação no gene UGT1A6, que codifica a enzima
UDP-glucuronosiltransferase 1A6, uma das responsáveis pelo metabolismo
de drogas fenólicas, incluindo o acetaminofeno e aspirina.
Esses estudos, publicados por Shrestha e cols., em 2011, estimaram
que o evento teria ocorrido entre 35 e 11 milhões de anos atrás.
Baseados na literatura consultada esses autores encontraram evidências
de que, na evolução da espécie, a dieta rica em carne tenha sido o fator
seletivo para a fixação dessa mutação. Logo é lícito imaginar que essa
mutação conferiu ao gato uma vantagem evolutiva, caso contrário a
mutação teria sofrido uma seleção negativa durante a evolução da
espécie.
Entretanto, ao fixá-la todos os gatos passaram a ser homozigotos para
a mutação de forma que, sem variabilidade genética, a espécie está
condenada a conviver para sempre com a inevítável sensibilidade aos
efeitos adversos das drogas fenólicas.
Que sinais clínicos podem ocorrer?
Após ingestão, a sua absorção é bastante rápida e os primeiros sintomas podem surgir em 30 minutos.
- Cianose (mucosas de cor azulada), que denuncia falta de oxigenação
- Depressão
- Inchaço da face e membros
- Aumento da frequência respiratória
- Dificuldade em respirar
- Temperatura baixa
- Sangue na urina
Como ocorre esta intoxicação?
Na maioria das vezes, ocorre por ingestão acidental do fármaco.
Outras vezes, pela administração bem intencionada dos proprietários,
desconhecendo a sua toxicidade.
Dei paracetamol ao meu gato. O que devo fazer?
Se a administração ocorreu há menos de duas horas ainda pode provocar
o vómito. Para tal, deve administrar uma solução de água oxigenada
(partes iguais de água e água oxigenada). De seguida deve levá-lo
imediatamente a um veterinário.
Se já se passaram mais de duas horas, o seu gato já deve
provavelmente apresentar sintomas de intoxicação por isso deve ser
assistido por um veterinário o mais rapidamente possível.
Qual é o tratamento?
O tratamento numa fase inicial vai incidir na eliminação dos resíduos
do medicamento existentes no organismo do animal. De seguida, deve ser
instituída fluidoterapia intravenosa agressiva e administrado o
antídoto.
Qual é o prognóstico?
Normalmente se houver uma resposta positiva ao tratamento o animal
fica bem em 48 horas, sem sequelas no futuro. O que muitas vezes
acontece é que quando nos chega o animal, passaram muitas horas desde a
ingestão, podendo apresentar já lesões orgânicas decorrentes da privação
de oxigénio e dos metabolitos tóxicos.
Em resumo, nunca administre um medicamento ao seu animal de estimação
sem antes falar com um veterinário! Não custa nada pegar no telefone e
pedir um conselho!
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