Os índices de suicídio entre profissionais da medicina veterinária têm
crescido constantemente, causando preocupação com as condições de
trabalho.
Pressionados constantemente por dívidas crescentes, pela fadiga da
compaixão e por ataques de tutores irritados em suas mídias sociais, os
índices de suicídio entre veterinários têm crescido cada vez mais.
Muitos tiram a própria vida por meio de medicamentos e drogas destinadas
a seus pacientes.
Um estudo,
realizado na Inglaterra, apontou que médicos-veterinários possuem
quatro vezes mais chances do que a população geral e o dobro de chances
de outros profissionais da área de saúde de tirarem a própria vida.
Um dos
motivos que tem elevado esse número é o fato desses profissionais
apresentarem a chamada Síndrome de Burnout. Segundo o psicólogo,
mestrando pelo Programa de Pós-graduação de Psicologia Clínica da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Vitor Hugo
Costa, ela é compreendida como uma síndrome psicológica oriunda da
exposição prolongada aos estressores do ambiente de trabalho.
A pessoa
que sofre com esta síndrome apresenta, segundo ele, exaustão física,
emocional e falta de vigor. Além disso, a pessoa afetada com o Burnout
acaba por sentir-se improdutiva, menos importante e pouco realizada com
sua atuação profissional.
Em Portugal, o veterinário e especialista europeu do comportamento
animal Gonçalo Pereira coordenou um estudo, envolvendo cerca de um
quarto dos profissionais, sobre a ansiedade, stresse, depressão desgaste
profissional e satisfação com a vida que confirma estes valores
"preocupantes".
"Somos uma classe que não está sequer preparada para identificar os sinais de depressão e de desgaste profissional", disse.
Segundo
Gonçalo Pereira, ao nível dos veterinários de animais de companhia, são
os especialistas em oncologia e comportamento animal os que têm menos
satisfação com a vida, "talvez por serem as áreas mais frustrantes
devido ao final de muitos dos casos".
"Os níveis de ansiedade, de stresse e de pressão da classe estão muito elevados", adiantou.
O bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários revelou hoje que
vários veterinários já se suicidaram em Portugal, sendo esta uma
profissão que alguns estudos identificam como tendo uma taxa de
suicídios superior à população geral e a outras profissões da saúde.
No Dia Mundial do Animal, o Jorge Cid disse à agência Lusa que os casos de suicídio nesta profissão "não são um nem dois".
"É
uma profissão extremamente stressante", disse o bastonário, recordando
algumas das pressões a que estes profissionais estão sujeitos: "Quem faz
inspeção pode sofrer pressões ao nível de alguns agentes económicos" e
quem faz clínica, nomeadamente de animais de companhia, "lida muitas
vezes com a morte, com um grande desgosto das pessoas".
"As pessoas colocam em nós uma carga grande, a qual às vezes temos dificuldade em ultrapassar", acrescentou.
Se soubessem a realidade, os ordenados e a precariedade, muitas pessoas não entrariam na profissão.
Segundo
Jorge Cid, os veterinários são muitas vezes psicólogos. "As pessoas
desabafam connosco. Há casos extremos, em que sabemos que aquele animal é
a única companhia da pessoa -- e há imensos casos - e desenvolve-se ali
uma grande carga psicológica" quando o animal sofre uma doença crónica
que o vai provavelmente matar.
O bastonário explicou que estes profissionais são muitas vezes chamados a resolver situações, para as quais não têm meios.
"Tudo isto causa alguma depressão e que pode eventualmente, dado o alto stresse, levar a pessoa a suicidar-se", afirmou.
Outra situação causadora de stresse é o conhecimento de casos de maus tratos, que não poucas vezes acabam nos consultórios.
"Há
uma panóplia de situações que são extremamente difíceis e a pessoa tem
que ter uma grande estrutura física e moral para as aguentar", disse,
concluindo que este é ainda "um trabalho mal remunerado".
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