domingo, 1 de março de 2020

Mastite Bovina: Entenda sobre a doença e seu tratamento.

A mastite bovina ou mamite é uma das principais doenças de rebanhos leiteiros. Apresenta impacto econômico devido à queda na produção e qualidade do leite, descarte de vacas por perda de quarto(s) mamário(s) e, consequentemente, maior custo de produção. Além disso, tem importância quanto à saúde pública, devido a bactérias que podem ser perigosas à saúde humana.

O que é mastite bovina ? 


mastite bovina, também conhecida como mamite, é uma inflamação das glândulas mamárias, causada por bactérias, fungos, algas e vírus. Ela acontece pela interação entre os micro-organismos, o ambiente, somados a ações de possíveis erro de manejo. Ao passo que todos esses elementos somados, criam condições favoráveis à contaminação da glândula mamária e o desenvolvimento da doença. Não apenas, alguns dados apontam que essa enfermidade atinge cerca de 20 a 38% do rebanho brasileiro, ocasionando uma perda de 12 a 15% da produção leiteira.

A doença é uma das que mais acometem a pecuária leiteira. Causando prejuízos à atividade seja pela redução da quantidade e qualidade do leite do produzido, perda de quartos mamários, consequentemente maior custo de produção, descarte precoce ou morte do animal. Além das perdas, a enfermidade pode representar riscos à saúde pública devido à eliminação de microrganismos, bactérias e toxinas no leite consumido, que podem ser perigosas.

Diante disso, o controle eficiente da mastite bovina se torna algo imprescindível na pecuária leiteira. Não apenas, para garantir a rentabilidade do sistema, uma vez que a enfermidade é considerada como uma das maiores causas de prejuízos para a produção leiteira mundial. Como também, para assegurar a sanidade do rebanho.

Formas de Mastite Bovina


A mastite bovina pode ser classificada de três formas:

#1 Mastites Clínicas 

Quando há evidências claras de sinais inflamatórios e alterações na secreção do leite, tanto no aspecto quanto à quantidade. Nesses casos, os animais apresentam indicações como a presença de grumos, aspecto aquoso do leite, perda de apetite, queda de produção, fraqueza, presença de calor no local, pus, edema e perda de função do órgão afetado.

#2 Mastites subclínicas

Ela age silenciosamente, pois não há alterações visíveis a olho nu. Decerto, é o tipo  de mastite bovina que mais está presente nos rebanhos brasileiros. E mais, como sua detecção só é possível por meio de testes ou análise do leite, faz com que os produtores demorem a procurar por ajuda. Esse tipo acaba sendo responsável por cerca de 70% das perdas, e pode diminuir a produção de leite em até 45%. 

#3 Crônica
 
É a manutenção da mastite subclínica ou a alternância com a forma clínica da doença. Neste tipo, é comum a perda definitiva da função do quarto mamário devido à fibrose tecidual. Os animais acometidos por esse tipo devem ser eliminados, pois são portadores e fontes de contaminação para os demais.


Como identificar a doença?


Quando se trata do diagnóstico da mastite, precisamos primeiro entender que os patógenos causadores podem ser classificados em dois grupos, confira:

Ambientais: são dissipados nos utensílios, água, esterco ou solo. Eles encontram condições adequadas no interior do úbere das vacas e provocam os casos mais sérios da enfermidade. Os principais microorganismos causadores da doença são: Escherichia coli e  Enterobacter spp. (coliformes fecais), Streptococcus spp., fungos, leveduras e algas.

Contagiosos: nesse tipo, a principal fonte de contaminação são os canais do teto infectados ou os próprios úberes. Então, nesse quadro infectado, uma vaca transmite à outra durante a ordenha. Os principais microrganismos causadores de mastites contagiosas (infecciosas) são: Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e Mycoplasma bovis.
É importante que você, produtor rural, entenda que o diagnóstico deve ocorrer o mais rápido possível, visto que a mastite pode ser transmitida entre vacas. A confirmação da doença, é possível por meio de três testes:
  • teste da caneca de fundo preto;
  • califórnia Mastite Teste (CMT);
  • contagem de células somáticas (CCS).
Como a mastite bovina é uma doença causada por um conjunto de fatores: microrganismos, ambiente e vacas, juntamente a possíveis erros de manejo que propiciam a contaminação da glândula mamária. Os sinais clínicos são diversos, as vacas com a forma clínica da doença apresentam alguns indícios, tais como:
  • febre
  • falta de apetite
  • redução da produção
  • leite com coágulos ou pus
  • inchaço ou vermelhidão nas mamas
Já em casos subclínicos, como você já viu nesse artigo, as alterações não são visuais. Então, a confirmação da doença deve ser realizada através do exame clínico.


Teste da caneca de fundo preto:

mastite em bovinosDeve ser realizado diariamente antes de cada ordenha. Nas fazendas em que são feitas duas ordenhas por dia, o teste também deve ser realizado duas vezes ao dia

É simples, de baixo custo e permite a detecção da mastite clínica. Com isso, o produtor conseguirá começar o tratamento ainda no início da doença.

Para realizar o teste, basta ordenhar os três primeiros jatos de leite de cada teto na caneca de fundo preto e observar se há presença de grumos, pus ou mudança de coloração.

Califórnia Mastite Teste (CMT):

O CMT deve ser realizado pelo menos uma vez por mês. É um teste utilizado para detecção de mastite subclínica e como indicador direto da contagem de células somáticas (CCS) do leite. 

O leite deve ser misturado ao reagente na proporção de 1:1. Por exemplo: 2 mL de leite e 2 mL de reagente. No Brasil, a interpretação mais comum do CMT considera cinco escores:
  1. Negativo, ou seja, com ausência de geleificação (-);
  2. Reação suspeita ou traços, com geleificação suave (T);
  3. Reação positiva fraca, com geleificação suave-moderada (+);
  4. Reação positiva com geleificação moderada (++); e
  5. Reação fortemente positiva, ou seja, com geleificação intensa (+++).
Simplificando, quando mais gelatinoso, maior a intensidade da reação. 
Contagem de Células Somáticas (CCS):

A CCS é realizada por laboratório especializado, credenciado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio de exames em aparelhos eletrônicos. Geralmente, os laticínios coletam amostras de leite do tanque resfriador para realização da CCS, pois este é um dos critérios para remuneração por qualidade do leite. 

Além da análise do leite no tanque resfriador, alguns laboratórios fazem a análise do leite de cada vaca. Esses dados são interessantes para o produtor pois é possível ver quais vacas impactam mais negativamente na CCS total

Dicas infalíveis para prevenção da mastite bovina


 Para evitar a mastite na sua propriedade, basta seguir essas 4 dicas:

  1. Proporcione uma cama limpa seca para as vacas;
  2. Se preocupe insistentemente com os métodos de ordenha;
  3. Assegure que os animais de seu rebanho não fiquem estressados;
  4. Tenha uma equipe empenhada que lute também no combate à doença.

Muitos produtores ainda não se atentam para tratar as vacas no momento da secagem, que é um método preventivo para atuar antes que o quadro seja mais severo. Além disso, algumas medidas simples de higienização dos equipamentos e dos tetos no momento da ordenha podem ajudar muito na prevenção da enfermidade.


Um conjunto de medidas junto ao rebanho leiteiro, pode ajudar no controle da mastite bovina. Como por exemplo, a realização constante de testes clínicos que apontem a presença da doença, desinfecção dos tetos antes da ordenha e após realizar a secagem deles com papel toalha.


Para evitar a transmissão da enfermidade, também é recomendável seguir o protocolo da linha de ordenha, utilizando como base o resultado dos exames. As vacas sem a doença devem ser ordenhadas primeiro, em seguida as que possuem a doença em sua forma subclínica e, por último, os animais com mastite clínica.


Como a alimentação ajuda a prevenir a doença?


Há uma clara relação entre o manejo nutricional e a ocorrência de mastite. Pois, quando o rebanho leiteiro está bem nutrido, a sua resistência a bactérias, patógenos infecciosos e fungos é bem maior. Clique no link abaixo e aprofunde seus conhecimentos no manejo nutricional e intensifique a prevenção da doença no seu rebanho:


Linha de ordenha: 

Recomenda-se que o produtor elabore (ou peça a ajuda de um profissional capacitado para elaborar) a linha de ordenha, ou seja, defina quais vacas serão ordenhadas primeiro.
Essa estratégia simples e sem custo permite a diminuição da transmissão da doença, da taxa de novas infecções e da prevalência da mastite no rebanho.
O primeiro grupo de vacas a ser ordenhado é o sadio e depois o doente. Além disto, o produtor pode se atender à ordem de lactação.  

Como montar a linha de ordenha:
  1. Vacas primíparas que nunca tiveram mastite;
  2. Vacas multíparas que nunca tiveram mastite;
  3. Vacas que já apresentaram mastite e foram curadas;
  4. Vacas com mastite subclínica;
  5. E sempre por último, vacas com mastite clínica. Essas vacas devem ser ordenhadas em latão separado e o leite descartado.
Pós-dipping:

O pós-dipping (desinfecção dos tetos após a ordenha) é um método de prevenção que deve fazer parte da rotina de ordenha, pois previne a entrada de microrganismos no úbere. 

Os produtos pós-dipping agem “fechando” temporariamente o esfíncter (abertura) do teto, que após a ordenha fica “aberto” por cerca de 1h30min. 


Tratamentos para mastite bovina:

A mastite clínica deve ser sempre tratada, enquanto a mastite subclínica pode aguardar o período seco para o tratamento.

Antes do início do tratamento da mastite, deve ser realizado o teste de cultivo, isolamento e antibiograma para identificar qual o agente envolvido. Dessa forma, obtêm-se resultados melhores,  redução de custos com tratamentos pouco eficientes e o problema é controlado mais rápido. A utilização de antimicrobianos/ antibióticos deve ser feita corretamente, de acordo com a recomendação profissional. Busque sempre a assessoria de um profissional qualificado.

Ao diagnosticar uma vaca com mastite, por muitas vezes é necessário realizar a secagem dela. Esse procedimento tem como objetivo recuperar a sanidade da glândula mamária para a próxima lactação. 


Após identificar o agente causador da doença, o médico veterinário, indicará  antibióticos intramamários, que devem ser administrados preferencialmente no período seco. Já o produtor, será responsável por realizar a limpeza constante das mamas e dos equipamentos utilizados para a ordenha.


As vacas com mastite crônica devem ser isoladas do restante do rebanho e seu leite descartado durante todo o período do tratamento. Elas devem ser acompanhados durante as duas primeiras semanas pós tratamento.

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