Cientistas encontraram a nova espécie durante a exploração de área marinha protegida na Escócia.
A personalidade do dono afeta as concentrações do hormônio cortisol no seu cachorro — Foto: Polícia Civil do Paraná
Pense no seu cãozinho de estimação quando estiver se sentindo estressado. Não que ele vá necessariamente aliviar sua rotina, mas porque ele pode estar sofrendo tanto quanto você.
Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Linköping, na
Suécia, constatou que donos de animais de estimação estressados "passam"
esse estado para seus cães.
A pesquisa acaba de ser publicada pelo periódico Scientific Reports.
A descoberta baseou-se em análise da presença de cortisol, conhecido
como o hormônio do estresse, no organismo das pessoas e de seus pets.
"Cães e seus donos sincronizam seus níveis de estresse a longo prazo",
resume a bióloga Lina Roth, uma das autores da pesquisa, em conversa com
a BBC News Brasil.
"A personalidade do dono afeta as concentrações de cortisol nos pelos dos cães. Já a personalidade própria de cada cão mostrou ter pouco efeito sobre o nível de estresse."
Sim, parece que mais um efeito colateral do milenar processo de
domesticação dos cães, levando-os a se tornarem seres dependentes dos
humanos, foi isso: o bicho acabou também descobrindo o que é estresse.
"Não encontramos nenhum grande efeito da personalidade do cão no
estresse de longo prazo. A personalidade do dono, por outro lado, teve
forte efeito. Isso nos leva a concluir que o cão espelha o estresse de
seu dono", afirma Roth.
Como foi feito o estudo
O estudo analisou 58 cães - 25 da raça border collie e 33 pastores de
shetland - e suas donas - todas mulheres. "Cortamos amostras de cabelo
das proprietárias e dos pelos de seus cães em duas ocasiões diferentes. E
analisamos a concentração de cortisol", explica Roth.
"À medida que o pelo cresce, o cortisol da corrente sanguínea é gradualmente incorporado. Isso forma uma espécie de calendário retrospectivo dos níveis de cortisol. Portanto, a partir de amostras de cabelo, conseguimos analisar os níveis de estresse ao longo de meses."
A bióloga conta que as proprietárias dos cães também foram convidadas a
responder um longo questionário com perguntas da personalidade - tanto
delas, quanto de seus cães.
Como já havia sido demonstrando por estudos anteriores que indivíduos
da mesma espécie podem espelhar estados emocionais uns dos outros - por
exemplo, crianças que incorporam a personalidade estressada de seus pais
-, os pesquisadores queriam descobrir se o mesmo ocorria com animais
com os quais humanos têm forte relação.
"Descobrimos que os níveis de cortisol a longo prazo no cão e em seu
dono foram sincronizados, de modo que os proprietários com altos níveis
de cortisol têm cães com altos níveis de cortisol, enquanto os
proprietários com baixos níveis de cortisol têm cães com baixos níveis",
comenta a bióloga e etóloga Ann-Sofie Sundman, também autora do estudo.
Como a atividade física também pode aumentar o nível de cortisol em
humanos, havia a suspeita de que o mesmo pudesse interferir no efeito
analisado nos cães. Então, foram selecionados cães mais sedentários -
aqueles que servem apenas como companhia - e outros que competem em
provas de agilidade e corrida.
As atividades físicas desempenhadas pelos cães durante o período da pesquisa também foram monitoradas.
Concluiu-se que a atividade física dos cães não afeta os níveis de
cortisol. Por outro lado, concluiu-se que os cães competidores parecem
estar mais sincronizados com seus donos. Especula-se que isso seja
resultado de maior interação - em treinamentos e competições.
"Nós ainda não sabemos o mecanismo por trás da sincronização, uma vez
que o que observamos foram correlações", explica Roth. "Mas descobrimos
que cães competidores mostram uma correlação mais forte do que cães de
estimação."
Quais são os próximos passos?
Os pesquisadores acreditam que sejam necessários novos estudos para
compreender melhor as explicações dessa relação, bem como se o mesmo
pode ser aplicado a outras raças ou mesmo a animais de estimação de
outras espécies.
"De fato, seria muito interessante estudar também outros animais de estimação", concorda Roth. "Mas primeiro precisamos investigar outros tipos de raças de cães e também incluir proprietários masculinos. São projetos em andamento."
As raças escolhidas - border collie e pastor-de-shetland - têm em comum
a capacidade de interagir bem com seres humanos, respondendo com
precisão e rapidez aos sinais. O que pode sugerir que sejam mais
adaptadas à sincronização, ao longo da evolução junto ao ser humano.
Raças de cães de caça, lembram os pesquisadores, são desenvolvidas de
forma a serem animais "independentes". Talvez sua sincronização com
humanos não seja tão intensa.
Uma outra linha de pesquisa também deve se desdobrar para analisar se
essa interação também ocorre - da mesma forma ou de modo diferente - no
caso de proprietários homens.
A atividade física dos cães não afeta os níveis de cortisol — Foto: congerdesign/Pixabay
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