Com investimento de cerca de R$ 1 milhão, o Instituto Bio Sistêmico
(IBS) inaugura hoje o primeiro laboratório de melhoramento genético do
Rio Grande do Norte e o 3º do Nordeste. Embora seja um estabelecimento
da iniciativa privada, os pecuaristas do Rio Grande do Norte deverão ter
acesso às técnicas para qualificar o rebanho bovino de forma facilitada
por meio do Sebrae/RN.
Laboratório, em Natal: O melhoramento genético vai se dar por meio da fertilização in vitro. Foto: Ana Silva
De acordo com o responsável técnico do laboratório, o veterinário
Geraldo Nobre, o estabelecimento poderá trabalhar com até 200
produtores. Mensalmente, a unidade local do IBS tem capacidade para
produzir até 3 mil embriões. O melhoramento genético vai se dar por meio
da fertilização in vitro, quando a célula reprodutora da vaca é
fecundada pela célula reprodutora do touro em laboratório.
Desde 2012, o projeto Gene Leite e Gene Corte do Sebrae/RN promoveu o
melhoramento genético para 37 produtores potiguares. Mas, como o
próprio gestor do projeto definiu, a logística era de “guerra”. Sem
laboratório no RN, o material genético dos animais passava por São Paulo
(SP), Rio Preto (SP) para finalmente chegar a Cuiabá (MT). Conforme o
responsável técnico do IBS no RN, essa viagem aumentava os custos do
serviço em pelo menos 50%.
No Rio Grande do Norte, cada embrião com prenhez (gravidez animal)
confirmada vai custar R$ 1.250. O detalhe é que o projeto SebraeTec,
consultoria em inovação do Sebrae, pode subsidiar até 80% desse valor
segundo o gestor do Projeto Leite e Genética do Sebrae/RN, Acácio Brito.
“O projeto é extremamente democrático”, acentuou.
No Nordeste, há laboratórios semelhantes na Bahia e em Alagoas. Mas,
segundo Brito, a filosofia de trabalho não é a mesma. “Eles trabalham
com genética importada de outras regiões. Nós apostamos que devemos
multiplicar os bons animais adaptados que já estão aqui. O nosso rebanho
é bom, ele só precisa ser disseminado por cada curral desse Estado”,
disse.
Com quatro anos de seca consecutivos, os produtores não vivem um bom
momento. Todavia, Acácio acredita que a aceitação de mais uma
ferramenta para auxiliar na produtividade é viável nesse contexto. “A
proposta é ajudar qualitativamente o rebanho do Estado, e não
quantitativamente. Não tenho dúvida que daqui a dez anos teremos
condições de avaliar os números de produção e produtividade e ver uma
diferença”, falou.
Além dos produtores que optarem pelo SebraeTec, o laboratório
atenderá outros clientes. “Vai acontecer o movimento inverso que ocorria
antes. Com certeza produtores da Paraíba e Ceará irão se interessar”,
analisou Geraldo Nobre. A unidade funciona no bairro Neópolis, em Natal.
A estrutura física do prédio tem três ambientes para os procedimentos
técnicos: sala de meios, sala de cultivo e lavagem. Além dos
profissionais dentro da unidade, o laboratório terá três equipes de
campo integradas por veterinários. O laboratório já está em
funcionamento.
Estado poderá ‘exportar’ biotecnologia
Mesmo sendo responsável por 0,3% da produção de carne no Brasil e
tendo o segundo menor crescimento na produção de leite nos últimos dez
anos, o Estado pode se tornar um exportador de biotecnologia nos
próximos anos segundo o gestor de projeto Leite e Genética do Sebrae/RN,
Acácio Brito. “Se esse hub (centro de conexões de vôos) da TAM se
instala no Rio Grande do Norte, nós temos a África, um continente ávido
por alimentos, bem próximo de nós. O Rio Grande do Norte poderá, daqui a
alguns anos, passar de importador para exportador de biotecnologia e
alimentos”, declarou.
De acordo com Brito, os indicadores de produção desses gêneros
animais no RN são pífios. “Nos EUA, a produtividade de uma vaca é de 9
mil quilos de leite por ano. No Brasil, 1.350 quilos de leite é a média.
No RN, são 920 quilos de leite no ano, 10% da melhor vaca dos EUA”,
comparou. Além do SebraeTec, ele cita iniciativas do governo que podem
ser usadas para impulsionar o potencial produtivo: Inovagro (Programa de
Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária) e o Pronaf
Inovação.
E apesar da crise econômica, o Banco do Nordeste (BNB) mostra que os
agropecuaristas, principalmente agricultores familiares e micro
empreendedores rurais, estão aptos a contrair crédito. Somente 7,95%
estão inadimplentes com o BNB no Rio Grande do Norte. Isso acontece
embora tenham contratado o maior número de operações de crédito se
comparado com outros segmentos atendidos pelo banco (micro e pequenas
empresas e médio produtor rural) nos últimos cinco anos.